https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_19_v2.jpg

em 2008, a convite do centro cultural são paulo, o artista joão loureiro realizou trabalho site-specific intitulado “o fantasma”. resultando em uma única fotografia, sua operação envolveu cobrir com “roupas de fantasma” os móveis, objetos e pessoas de uma área técnico-administrativa desse centro cultural. parte de um programa da instituição voltado a estimular maior integração entre suas áreas técnicas, o trabalho desagradou parcela dos funcionários, tendo sido removido de exposição antes do período inicialmente previsto, sob ordem do então secretário municipal de cultura.
(fonte: site do artista)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_109539842_1981866231948121_1618710282515107553_o.jpg

"um autor que escreveu apenas uma peça de teatro, a qual só podia ser encenada uma única vez, e naquele que, em sua opinião, era o melhor teatro do mundo, dirigida pelo, também em sua opinião, melhor diretor do mundo e representada apenas e tão somente pelos, em sua opinião, melhores atores do mundo, acomodou-se, ainda antes de abertas as cortinas da noite de estreia, no local mais apropriado da galeria, invisível ao público, posicionou seu fuzil automático, construído especialmente para esse fim pela firma suíça vetterli, e, abertas as cortinas, pôs-se a disparar um tiro mortal na cabeça de todo espectador que, em sua opinião, risse no momento errado. no final da apresentação, só restavam no teatro espectadores por ele alvejados, ou seja, mortos. durante toda encenação, os atores e o administrador do teatro não se deixaram perturbar um só instante pelo autor obstinado e pelos acontecimentos por ele provocados."
(thomas bernhard, um autor obstinado, em o imitador de vozes; desenho baseado em aquarela de guillermo kuitca)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_15.jpg

em conturbada visita educativa com grupo de adolescentes do ensino médio, no paço das artes, em 2010, o então mediador tiago santinho teve que lidar com situações violentas e embaraçosas. já no acolhimento à turma, um garoto deu um tapa no rosto da colega, dizendo: “você não vai falar dessas coisas comigo, vai falar com essa bicha aí”, referindo-se ao mediador. a homofobia deu o tom da visita, recrudescendo quando o grupo se deparou com uma instalação do artista nino cais, que trazia diferentes objetos resultantes de colagens oriundas do universo das antigas revistas de moda. irritados com o que trazia a instalação, alguns alunos começaram a tocar nas peças, em gesto provocativo. com a insistência do mediador para que não mexessem nos objetos, um dos estudantes ergueu a escultura que unia as pernas de um manequim e uma mala de viagem, atirando-a no chão. na sequência, encarou o mediador de perto, desafiando-o: “e aí, o que vai fazer?”, enquanto outros dois cercavam-no. a professora entrou em desespero, sem saber o que fazer para apaziguar a situação, suplicando para que os garotos não batessem no mediador. sem que os vigilantes patrimoniais viessem em seu auxilio, santinho deu um jeito de encerrar a visita, mas não sem receber a ameaça de que o trio voltaria sem a professora, para pegá-lo.
(fonte: relato de tiago santinho na escola de arte útil, na pinacoteca de são paulo, em 2019; desenho baseado em colagem de nino cais)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_03_v2.jpg

o artista wassily kandinsky recorda que durante exposição numa galeria em munique, em 1910, o dono do estabelecimento se queixava de que quase todos os dias, após o expediente, tinha de limpar as telas modernistas sobre as quais visitantes haviam cuspido.
(fonte: claire bishop, artificial hells)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_05_v2.jpg

a curadora e escritora élida salazar relata uma ação da guerrilha urbana venezuelana envolvendo obras de grandes nomes da arte europeia. por ocasião da exposição “cien años de pintura en francia”, realizada no início dos anos 1960 em caracas, um grupo entrou armado no museu por volta das 15h, enquanto cerca de 400 escolares realizavam visitas guiadas à mostra, num dia de semana. em menos de trinta minutos, os portadores das armas de fogo arrancaram cinco quadros da parede, que somavam algo em torno de 50 milhões de dólares. as pinturas eram de autoria de van gogh, gauguin, cézanne, picasso e braque. ao longo das investigações sobre o roubo, os voos nacionais e internacionais foram cancelados na venezuela, que se tornou foco da atenção mundial. semanas antes, o presidente do país havia declarado guerra contra o partido comunista da venezuela, que por sua vez reagiu intervindo em um evento de grande importância para a diplomacia do país. depois de permanecerem desaparecidas por aproximadamente 74 horas, as obras foram recuperadas, possibilitando que a exposição fosse reaberta ao público – embora por somente mais cinco dias.
(fonte: asalto armado al museo de bellas artes, 1970)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_17.jpg

a orientadora de público do masp luiza b. do nascimento reconstitui o diálogo entre dois visitantes da exposição “portinari popular”, em cartaz no museu entre setembro e novembro de 2019, acerca de “rumores amorosos" na vida do pintor:
— você sabia que na época tarsila do amaral e portinari eram amantes?
— mentira!? (se abismou o outro)
— sim, e eles tinham um código entre eles. tá vendo nas pinturas do portinari, pés e mãos grandes?
— sim, tô vendo (afirmou)
— era esse o código, a tarsila pintava pés e mãos grandes pra se homenagearem.
(fonte: zine desorientadores, equipes de medição e orientação de público do masp)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_21_v2.jpg

transferido em 1922, do ministério da guerra, para o recém-criado museu histórico nacional, no rio de janeiro, este retrato a óleo de dom pedro II traz marcas alusivas aos rasgos produzidos no rosto da figura por militares de baixa patente, em 15 de novembro de 1889, data da proclamação da república. vandalismo para os monarquistas, gesto legítimo para os republicanos, os cortes na tela seriam preservados [sic] até a década de 1970, quando o quadro foi restaurado, com a face do ex-imperador sendo reconstituída – sem que tenha sido feita qualquer menção ao procedimento nos relatórios do laboratório de restauração do museu. no início dos anos 2000, foi formada uma comissão técnica na instituição, que decidiu devolver as marcas dos rasgos originais, retraçando as linhas de corte com tinta acrílica cinza.
(fonte: gabriela da fonseca, entre vandalismo e patrimônio)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_26_v2.jpg

empreendida por revolucionários em 1871, na praça vendôme em paris, a derrubada da estatua de napoleão I foi provavelmente o primeiro grande ato de iconoclastia pública registrado fotograficamente.
(fonte: david freedberg, iconoclastia; desenho baseado em fotografia de bruno braquehais)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_20_v2.jpg

em nota contra o que identificou como “cristianofobia” praticada pela 31ª bienal de são paulo (2014), o instituto plínio corrêa de oliveira afirmara que a mostra atacava a fé cristã, “vilipendiando a religião católica”. entre os sinais da afronta, destacou, além da proposição do coletivo mujeres creando e das obras do artista león ferrari, a imagem do cartaz daquela edição da bienal: um desenho do artista indiano prabhakar pachpute, que apresenta forma similar à da torre de babel, provida de oito pernas humanas. ao aludir à torre, este “símbolo da soberba do homem”, a peça de divulgação da mostra estaria homenageando, segundo o instituto, um mito que “desafia a deus [por] tentar construir um monumento que chegue até o céu”.
(fonte: site do ipco; desenho baseado em quadrinho de robert crumb)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_13.jpg

a anarquista emma goldman, ao tomar contato com os monumentais espetáculos de massa na rússia pós-revolução, que reuniam dezenas de milhares de pessoas em praça pública, inquietara-se com a apatia da multidão. numa exuberante celebração em são petersburgo, em que a praça uritzky fora toda adornada com bandeiras vermelhas, goldman surpreendeu-se com o eloquente silêncio provindo daquela impressionante aglomeração, que a ela pareceu “opressivamente calada”, marchando mecanicamente. insatisfeita com a explicação que lhe dera um amigo bolchevique, a anarquista se dirigiu a uma civil desconhecida, que confessou: “as pessoas sofreram muitas decepções desde outubro de 1917 [...], a revolução perdeu todo sentido para elas. esse espetáculo tem o efeito de tornar tal decepção mais pungente”.
(fonte: claire bishop, artificial hells)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_02_v2.jpg

o esquema de segurança da national gallery de londres, em 1912, não foi hábil o suficiente para evitar que a sufragista mary richardson interagisse com o quadro "vênus ao espelho", de diego velázques, esfaqueando a tela com uma faca de cozinha. incialmente, a responsável pelo gesto declarou ter rasgado a tela para chamar atenção à causa sufragista. anos mais tarde, contudo, afirmou que o ataque deveu-se à sua aversão ao modo como "os homens se detinham todos os dias diante do quadro e ficavam boquiabertos".
(fonte: david freedberg, iconoclastia)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_18_v2.jpg

a propósito dos ataques a exposições de arte no brasil, no segundo semestre de 2017, o historiador da arte sérgio bruno martins afirmou, em texto que discute a inadequação das respostas imediatas do setor artístico ao fenômeno, que “artistas, curadores e instituições [encontravam-se] perdidos e assustados numa escuridão repleta de fantasmas demasiado reais”.
(fonte: luisa duarte [org.], arte censura liberdade: reflexões à luz do presente; desenho baseado em trabalho de joão loureiro)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_14.jpg

a criança escreveu no livro de assinaturas de uma exposição dedicada a certa vertente artística nova-iorquina, numa galeria de província, na frança: “não compreendo como se paga as pessoas que fazem uma coisa qualquer ou rabiscam um traço milhões e milhões com os quais se poderiam alimentar os etíopes”.
(fonte: nathalie heinich, a arte contemporânea exposta às rejeições; c/ desenho da luiza)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_22_v2.jpg

quando, em 1995, o museu nacional de belas artes, no rio de janeiro, recebeu uma grande exposição do escultor francês auguste rodin (a mesma que esteve em cartaz, logo na sequência, na pinacoteca de são paulo), formavam-se filas intermináveis em sua entrada, as quais se estendiam pelas ruas próximas ao museu, fazendo com que os visitantes precisassem esperar por longas horas. um tal césar, indisposto a aguardar na fila como os demais, não hesitou em dar curso ao seu estratagema, paramentando-se com óculos escuros e bengala. a incorporação da persona do cego lhe conferiu o direito de entrar imediatamente na mostra, sem pegar fila, além de poder desfrutar do serviço exclusivo de um mediador e de poder tocar nas esculturas.
(fonte: ana beatriz b. silva, mentes perigosas: o psicopata mora ao lado; desenho baseado em escultura de rodin)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_24.jpg

quando, no segundo semestre de 2010, o sesc vila mariana realizou a exposição “por aqui, formas tornaram-se atitudes”, seu curador declarou-se entusiasmado com a diversidade do público que desfrutaria da exposição, haja vista o caráter plural das atividades, dos espaços e dos frequentadores desse centro cultural e esportivo. para ele, era incrível poder apresentar o melhor da produção artística contemporânea brasileira a pessoas que, em sua maioria, não estavam familiarizadas com tal universo simbólico, contribuindo assim para a ampliação e formação de público. passadas algumas semanas da inauguração da mostra – que fora montada numa área de grande circulação –, o mesmo profissional acorria indignado aos responsáveis da instituição, exigindo explicações e providências para a avaria dos adesivos de zipers da obra (em homenagem a lucio fontana) de nelson leirner, para o uso violento que adolescentes vinham fazendo das bolas de bilhar da instalação (d'après o café noturno de van gogh) de hélio oiticica e para o sumiço de peças do jogo da memória (com imagens de corpos nus femininos da história da arte) de felipe cama.
(fonte: animador cultural que prefere não se identificar; desenho baseado na capa do disco "chico buarque de hollanda", de 1966)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_23_v2.jpg

exibido na noite de abertura do 50º festival de brasília do cinema brasileiro (2017), o filme “vazante”, dirigido por daniela thomas, provocou reações incisivas de militantes negros preocupados com o caráter da abordagem da diretora branca acerca da memória histórica da escravidão no brasil, visto como enviesado. em mesa de debate do festival, thomas foi interpelada pelo fato de que sua perspectiva branca negaria a dos negros escravizados, resultando em um filme “conformado”, “conservador”, “romantizado”, “desinformado do ponto de vista negro”, “reiterativo da escravidão”, “economicamente questionável” e “mantenedor do status quo”. assumindo-se surpresa com a assertividade e o volume das críticas, a diretora chegou a dizer: “acho que eu não faria o filme, agora”, fala seguida de palmas da combativa plateia.
(fonte: canal no youtube do festival de brasília do cinema brasileiro)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_12.jpg

max imdahl, professor catedrático de história da arte da universidade ruhr de bochum, na alemanha, se entusiasmou com a possibilidade de ministrar, entre 1979 e 1980, seminários sobre arte moderna voltados aos trabalhadores da fábrica da bayer, em leverkusen. seu programa baseava-se no princípio de que a arte moderna toca não apenas os peritos, mas também aqueles que não tiveram formação estética. estes poderiam dizer, durante os encontros, tudo aquilo que percebiam e pensavam sobre as obras de artistas como josef albers, barnett newman, max bill, victor vasarely, picasso e mondrian – selecionadas e reproduzidas pelo professor para uma plateia formada por funcionários de colarinho azul e colarinho branco. como forma de estimular que os trabalhadores protagonizassem as discussões sobre arte, imdahl conclamava-os: “meu desejo é que vocês deixem suas mentes falar”, uma vez que “bom é aquilo que é dito honestamente, e isso é o principal”. herdeiro do romantismo, o professor repetia a cada um de seus interlocutores: “tudo o que posso lhe dizer é que eu não sei mais do que você”. esse defensor da “igualdade das inteligências e das burrices” (algo que nos leva a pensar em rancière) operava, contudo, com uma lógica previsível, sempre propondo as questões e selecionando as respostas que daí surgiam. ao fazê-lo, reformulava os comentários dos trabalhadores em função dos resultados por ele almejados. foi o que se deu com a discussão em torno do quadro “o sonho”, de picasso. retendo a afirmação de um participante, de que a figura retratada “sonha e, por tudo que sei, pensa em sua irmã ou mãe”, o professor o congratula: “eu gosto do que você diz”, para na sequência reorientar o enunciado, recapitulando a ideia nesses termos: “agora, se eu puder simplesmente repetir o que foi dito aqui, por que isso é muito importante, a pessoa representada sonha com o seu próprio outro eu, o qual ela deseja ser. agora sigamos em frente!”. embora seu interlocutor tenha consentido que “sim, foi o que eu disse”, alguém do fundo pede a palavra, dirigindo-se ao professor: “você está tentando nos convencer de algo aqui”, acrescentando: “você está continuamente transformando nossas opiniões e, dessa forma, modificando-as”.
(fonte: niels werber, o populismo como uma forma de mediação)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_25_v2.jpg

para a exposição “a marquise, o mam e nós no meio”, realizada de maio a agosto de 2018, seu grupo curatorial desenvolveu projeto expográfico que procurava criar situações de passagem entre o museu e cobertura de concreto do parque ibirapuera. integrando os dispositivos pensados com esse fim, o mobiliário da mostra incluía barras de ferro, bancos, rampas, obstáculos, cortinas e biombos, que se distinguiam por combinar sugestões de obstrução, permanência e (ultra)passagem, evocando com isso dinâmicas e ritmos característicos da marquise. após os períodos de permanência de alguns desses módulos na marquise – geralmente às segundas-feiras, quando o museu está fechado para o público –, os mesmos eram novamente levados para a exposição, reintegrando-se à sua expografia, mas com uma importante diferença: utilizados por patinadores, skatistas, ciclistas, dançarinos etc., as peças traziam consigo, para o espaço expositivo, marcas de uso e resíduos materiais. estes acabaram figurando como fator de divergência entre a curadoria e a museologia, uma vez que, de acordo com parecer da segunda, as substâncias residuais arrastavam bactérias para o interior do museu, representando risco para a conservação das obras.
(fonte: entrevistas com ana maria maia, daina leyton, carol tonetti, ligia nobre e barbara ganizev, em colaboração com flora leite)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_10_v4.jpg

numa entrevista em 2013, oliveira, que trabalha como porteiro no edifício esmeralda, na cidade de recife, assim se referiu à escultura de ferro pintado instalada na entrada do prédio, junto à guarita onde cumpre suas jornadas: “isso aí é uma folha. não acho que seja uma obra de arte, é muito simples. quando a arte é bonita eu acho bonita, mas essa é horrível. não sou do ramo, mas você olha assim e vê a coisa mais feia do mundo. tanto é que um dia eu pintei e só depois soube que nem podia ter pintado, era pra deixar enferrujando mesmo”.
(fonte: bárbara wagner e benjamin de burca, edifício recife)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_04_v2.jpg

numa das seratas futuristas, em 12 de dezembro de 1913, no teatro verdi, em florença, insultos foram lançados contra os artistas. um espectador entregou um revólver na mão do líder vanguardista filippo marinetti, instando-o a cometer suicídio no palco.
(fonte: claire bishop, artificial hells)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_11.jpg

dois policiais fardados, em ronda pelo interior do masp, em 2017, toparam com “tempo suspenso de um estado provisório”, trabalho em que o artista marcelo cidade utiliza o cavalete projetado pela arquiteta lina bo bardi, em 1968, para a exibição do acervo do museu, substituindo o “cristal” por uma lâmina de vidro blindado. tal superfície traz as marcas de dois tiros de revolver, resultando num filtro físico que pareceu oportuno aos policiais para uma selfie.
(fonte: zine desorientadores, equipes de mediação e orientação de público do masp)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_09.jpg

o youtuber gon nazareno postou, em 30 de setembro de 2017, depoimento no qual usa a perfomance "la bête", do artista wagner schwartz, para reafirmar visões conspiratórias assumidamente conservadoras, dizendo que a ação do performer nu faz parte de um processo tocado por gente "astuta e calculista", que, baseada na defesa da liberdade de expressão, estaria deturpando a sociedade há séculos. o jovem diz que esse processo se iniciou com o renascimento, passando pelo iluminismo, até chegar no estágio em que a ciência negou a igreja e que o estado veio a ser exigido como laico. segundo ele, é de "reforminha em reforminha" que esse "povo de esquerda" vai estragando com tudo. tal arco de mudanças, em que "todo mundo tem liberdade de fazer o que quiser, buscar felicidade e bla bla bla", passou, conforme o youtuber, pela nova esquerda nos estados unidos, com as demandas por legalização do casamento gay, das drogas e do aborto, culminando na "ideia de que o gênero é uma construção social, e não biológico". sobre a performance "nesse novo museu [sic], o mam", ele assevera: "e agora já vem com pedofilia disfarçada de arte", emendando: "daqui a pouco já está entrando no congresso a proposta de legalizar a pedofilia".
(fonte: canal de gon nazareno no youtube)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_08.jpg

em 18 de fevereiro de 1987, o coletivo de artistas a moreninha engrossou a audiência da palestra de achille bonito oliva na galeria saramenha, no rio de janeiro. porta-voz da então aclamada "retomada da pintura", o crítico italiano teve sua fala trollada por gestos planejados e praticados pelos artistas e pelos garçons contratados pelo grupo, sendo que estes estavam escondidos nos bastidores e aqueles distribuídos entre as cadeiras da plateia. iniciada a explanação de oliva, a moreninha acendeu alguns barbantes (peidos de véia). aos cinco minutos, seus membros iniciaram o levanta e senta. junto disso, entraram os garçons servindo moedas de chocolate, quando os artistas vestiam grandes orelhas postiças. assim que os garçons gritaram que "o doce acabou!", a moreninha soltou expressões de lamento, "oh! ah!", enquanto um deles ligou o rádio e outro cantou uma ópera.
(fonte: ivair reinaldim, em torno de uma ação)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_07.jpg

em defesa do que chamam de valores da civilização cristã, membros da ação jovem do instituto plinio corrêa de oliveira se postaram em frente ao sesc vila mariana para protestar contra a conferência magna de judith butler, em 9 de setembro de 2015. em sua primeira visita ao país, a filósofa integrava o 1º seminário queer, concebido pela revista cult. da calçada da rua pelotas, no lado oposto ao portão de entrada, os jovens paramentados manejavam bandeira do brasil, estandarte do instituto e gaita de foles. em suas placas podia-se ler: "ideologia de gênero nas escolas destruirá a família" e "cuidado! querem impor a ideologia homossexual nas escolas".
(fontes: opera mundi 11/09/2015; site do ipco 10/09/2015)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_06.jpg

no primeiro final de semana da 28ª bienal de são paulo, um grupo de aproximadamente quarenta pichadores invadiu o pavilhão expositivo, pichando paredes, corrimãos e colunas do segundo andar do edifício, mantido vazio pela curadoria da mostra sob a designação de “planta livre”. à acusação da curadoria de que os pichadores pretendiam pichar as obras expostas no terceiro andar, caroline pivetta respondeu: “a gente não queria estragar as obras, mesmo porque não tinha obra [no segundo piso]. a obra, ali, nós que íamos fazer”.
(fonte: folha de s. paulo, 05/12/2008)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_16.jpg

durante a exibição de "bacurau" pelo youtube, na programação de quarentena do telecine, o espectador lucas barboza deu um nó semântico-ideológico no filme e em seu ativismo progressista.
(fonte: timeline de kleber mendonça filho no facebook, 18/06/2020)

 
https://diogodemoraes.net/files/gimgs/th-53_01_v2.jpg

na tarde do dia 7 de junho de 1931, em são paulo, uma procissão de corpus christi percorria a praça do patriarca. plantado na esquina com a rua são bento, o artista flavio de carvalho optara por conservar seu chapéu na cabeça, enquanto passavam as fileiras e estandartes católicos. a multidão de beatos, irada com a insolência daquele civil, começou a gritar: "péo", "péo", "lincha", "lincha". imbuído de investigar a psicologia das massas e o poder destrutivo da crença, o artista se viu realmente em perigo e deu um pinote, escondendo-se na leiteria campo bello, depois de quebrar a claraboia do estabelecimento para entrar.
(fonte: correio da tarde, 08/06/1931)

 
Episódios contrapúblicos II