Notas de um percurso

Há um modo de olhar nos desenhos de Diogo de Moraes que a um só tempo revela o que vê e a maneira como vê. O mesmo traço que toma nota do mundo também assinala, não em segundo plano, o repertório, a linguagem, as relações a partir das quais suas imagens denotam e conotam. Seja ao retomar trabalhos de arte que articulam noções de tempo e movimento, seja ao indagar a experiência cotidiana, a cultura visual que nos cerca e o modo como ambas são atravessadas por esses mesmos conceitos.

Espécies de relatório fora de padrão, seus desenhos organizam-se em pequenas coleções e apenas em contexto produzem sentido. Sistemáticos e minuciosos, eles registram percurso e linguagem. Ou melhor, aquilo que o percurso deixa perceber – e aí entra a linguagem e o que ela permite ver – na tentativa de processar um caminhar ou um dar conta do mundo que é sempre circular. Tal qual o modo como se representa e experimenta o tempo.

A ideia de círculo vicioso ou de definições que nunca prescindem dos termos que definem, em repetições espiraladas de si mesmas, é um dos conceitos que emprestam significado às coleções de Diogo de Moraes. Como impulso que faz girar roda, a ideia está presente na origem e no desenrolar dos trabalhos. E, claro, na medida em que também nos fala de movimento – ou desse transeunte tautológico que aponta tanto para o artista quanto para nós mesmos. O nosso giro, a nossa cambalhota, a nossa vertigem.

Fernanda Albuquerque
2011